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Tecituras Analíticas

A adultização da infância

O crescente esbatimento e eliminação do período de latência da sexualidade infantil devido à ausência de frustração e estimulação excessiva às quais as crianças são submetidas, relacionada diretamente com a revolução digital, novas configurações familiares e ausência dos pais tem gerado um encurtamento da infância. A consequência é que a excitação da fase edípica e da adolescência acabam por formar um continuum com graves prejuízos ao desenvolvimento da capacidade de pensar. Kristeva(2011)diz que o indivíduo contemporâneo não dispõe nem do tempo , nem do espaço necessário para construir uma alma.

Esperar “– uma qualidade importante que Freud entendia como uma conquista do desenvolvimento emocional, hoje caiu em desuso. A criança de nosso tempo se encontra pressionada desde a tenra infância para se apressar, para transpor etapas, entre elas também a latência. A infância parece necessitar ser banida para que o ser em desenvolvimento dê lugar a um ser pronto, terminado, sem necessidades de investimento, de espera e acompanhamento. Retirar da criança a possibilidade e oportunidade para brincar é retirar as condições básicas e essenciais para seu desenvolvimento, para o contato com suas habilidades e dificuldades, para despertar-lhe a imaginação e a criatividade. Muitas crianças estão brincando menos, pois cedo se tornam dependentes da televisão, vídeos e computadores.

Vivemos uma sensação ao olharmos em nossa volta que muitos adultos parecem incomodar-se com a infância, pois ela requer tempo, dedicação, traz momentos de dor e frustração, requer doação e principalmente mobiliza nos adultos sentimentos de impotência, dependência, incerteza, que parece ser tudo o que nos tempos atuais NÃO PODE SER SENTIDO.  A palavra de ordem é ter êxito, ser independente e feliz. Meltzer fala de uma categoria de funcionamento que busca o êxito como forma de livrar-se da ansiedade, da confusão, da desilusão, da frustração.  Mas porque esses sentimentos se transformaram em nossos dias em algo tão estarrecedor? O sentir passou a ser sinônimo de incapacidade, de perda de tempo, de infelicidade e com isso, os sentimentos precisam também ser blindados, afastados, negados. A falta de empatia se torna inevitável, juntamente com a incompreensão, consequência do afastamento do si mesmo e aí a confusão, a perda dos referenciais.

Todos estão muito confusos: os pais,  escolas,  a sociedade, o que deixa aqueles adolescentes e crianças que por seu momento de vida estão naturalmente confusos, ainda mais confusos e angustiados, sem parâmetros e diretrizes com os quais se orientar.  Cabe a nós profissionais da saúde auxiliarmos com nosso conhecimento e trabalho na viabilização de alternativas .

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