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Débora

Ainda sobre Famílias

O último texto que publiquei aqui tratou sobre as mudanças pelas quais a família vem passando nas últimas décadas. Agora quero desenvolver o assunto um pouco mais. Evidentemente, sem a pretensão de esgotá-lo. Até porque tais transformações continuam acontecendo. Como será a família típica daqui a 50 anos? Ninguém sabe.

 Ao estudar as relações familiares, psicanalista Maria Rita Kehl desenvolveu dois conceitos, ou tipos, que nos ajudam a entender as mudanças a que nos referimos: a família “nuclear” e a família “tentacular”. A família nuclear corresponde ao modelo tradicional, aquele em que muitos de nós foram criados e que muitos julgam o “normal” ou o “certo”. A família tradicional, monogâmica. Pai, mãe e filhos. Ela que está em crise, há muito tempo e por razões que discutimos no texto passado: mudanças no papel da mulher, na sociologia das relações, etc.

 De acordo com Maria Rita Kehl, aquele modelo antigo vem sendo substituído pelo que chama de família tentacular. Neste caso, a família deixa de ser somente aquele núcleo a que nos referimos, ela extrapola para outros endereços, outros tetos. Irmãos podem viver separados, em casas diferentes. Convivendo com padrastos ou madrastas, muitas vezes pela segunda ou mais vezes. É comum que coabitem com irmãos não consanguíneos de outros relacionamentos de seus pais. Que também podem ser do mesmo sexo. Enfim, são como tentáculos que se espalham por outras casas, cidades, etc. Uma rede de afetos, inclusive por gente que não é sangue do nosso sangue. Tal composição é melhor ou pior que a família tradicional tal como a conhecemos (ou idealizamos)? As duas coisas, dependendo da situação. Mas isso é irrelevante, uma vez que não há escolha na maioria dos casos.

 Melhor ou pior, tradicional ou tentacular, as crianças continuam a ser crianças. Precisam ser educadas, como sempre foi. Talvez métodos e valores tenham mudado, mas crianças continuam a precisar de orientação e limites. Não importa a configuração familiar, se um pai ou mãe solteira, ou um casal homossexual. Existem adultos e crianças. Aqueles devem assumir sua responsabilidade e sua autoridade de educar. Alguém nessa confusão deve assumir o papel de pai ou mãe. Representar para os pequenos as figuras essenciais. E isto não pode ser opcional. É um dever. Por mais descolada e alternativa que seja sua família, abrir mão disto para não se incomodar é abandono moral de uma criança. Ela não escolheu viver na sua família, com suas escolhas, as boas e as nem tanto assim. Portanto, seja adulto.

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