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Agronegócio

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Falta de chuva põe safra gaúcha de soja “no limite”

Baixo volume e irregularidade de precipitações há mais de 20 dias alteram perspectiva inicial de colheita cheia e preocupam produtor

Por: Correio do Povo
Fotos: Adriane Rodrigues / Seapi / CP

Depois de enfrentar o excesso de chuva nos meses de setembro, outubro e novembro de 2023 e adiar a semeadura das lavouras de soja, os agricultores gaúchos deparam-se com um novo desafio: a falta de chuva. Com 33% das plantações em germinação e 44% em floração, segundo último Informativo Conjuntural da Emater-RS/Ascar, a produção da oleaginosa encontra-se em um momento decisivo frente a quase 30 dias sem precipitações significativas e uniformes.

De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja RS), Ireneu Orth, a expectativa é que não mais a safra gaúcha do grão, neste ano, ultrapasse os 20 milhões de toneladas. “Tem lugares que faz 24 ou 25 dias que não chove, onde a soja está perdendo o vigor, está secando e não vai formar grão”, relata. Entre eles, estão municípios da região das Missões, como São Luiz Gonzaga e São Borja, e do Salto do Jacuí, como Alto Alegre. Já o contrário, relata Orth, foi visto, nas áreas de em Passo Fundo e Erechim.

“Se chover onde está seco, em vez de colher 50 ou 60 sacas por hectare, o produtor vai colher 34 sacas por hectare”, diz Ireneu Orth.

O primeiro levantamento da Emater/RS-Ascar para a safra 2023/2024 de soja no Estado aponta para 22,4 milhões de toneladas e produtividade média de 55 sacos por hectare (3.327 quilos/hectare) em 6,74 milhões de hectares semeados. Já o boletim da RTC/CCGL, divulgado em janeiro, indicava mais de 23 milhões de toneladas. Mas o primeiro vice-presidente e coordenador da comissão de Grãos da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Elmar Konrad, afirma que a safra gaúcha da oleaginosa está “no limite”.

“Precisamos de chuvas urgentes para compensar a deficiência hídrica que vivemos desde janeiro, pois ainda existe um potencial de recuperação bom. Mas, para isso, as precipitações precisam ocorrer até a segunda quinzena de fevereiro”, condiciona Konrad.

As lavouras semeadas no tarde devem ser as mais prejudicadas, mesmo que não resultem em 24 sacos/hectare de 2021/22. “Ou 36 sacas/hectare de 2022/2023, quando nossos custos foram 45% maiores e o preço da soja caiu de R$ 170/saca para R$ 125/saca”, lembra Konrad.

Perda média de 15% na região Noroeste

Na região de abrangência da C.Vale de Catuípe, ao Noroeste do Estado, a média de perda nas lavouras de soja é de 15% devido à falta de chuva. A estimativa leva em conta os 60 mil hectares da cooperativa, que também abrange plantações de Ijuí, Ajuricaba, Santo Augusto, Independência, Chiapetta, Três de Maio, Santo Ângelo e Giruá. “Temos lugares que estão há 26 dias sem chuva. Nessas áreas, a quebra já é considerada bem significativa. Há quem fale em algo próximo de 30%”, revela o gerente da unidade, Jones Antônio Dacanal.

O período seco prolongado e irregular atinge pequenos, médios e grandes agricultores da região. Com apenas 1,5 mil hectares irrigados na área de abrangência da cooperativa, a expectativa é que a chuva volte a cair nesta semana. Mesmo assim, os rendimentos devem ser variáveis. “Muitos colherão a safra cheia, mas outros vão colher a média de 45 sacos por hectare e outros 65 sacos/hectare”, estima Dacanal.

A preocupação, de acordo com o gerente, está na descapitalização do sojicultor, que, há dois anos, colhe uma média pouco maior de 20 sacas de soja por hectare devido à estiagem. “A produção de trigo (de 2023) foi bem complicada com o excesso de chuva, com a perda de qualidade dos grãos e a com a redução nos preços de comercialização”, argumenta.

Dacanal cita ainda o desafio maior dos que plantaram o milho no cedo – para cultivar a soja na sequência -, e enfrentaram condições climáticas bastante desfavoráveis na primavera do ano passado, amargando altos percentuais de quebra na safra do cereal. “Com excesso de chuva e tempo nublado na floração, houve quebra de produtividade bem significativa no milho por causa de doenças e por causa da cigarrinha”, lamenta.

Emater já indica escassez hídrica em algumas regiões

O Informativo Conjuntural da Emater/RS-Ascar da última semana relata problemas com a escassez hídrica nas lavouras de soja em várias regionais. “Em regiões onde não choveu o suficiente, há sinais de estresse hídrico, que pode afetar o potencial produtivo. As plantas exibem sintomas de murchamento, expondo a face inferior das folhas em direção aos raios solares, que causa queimaduras nessas partes”, detalha o boletim. Nas áreas mais afetadas, os técnicos também observam início do processo de desprendimento das folhas mais baixas, com rápido amarelecimento.

O sinal vermelho com relação à falta de chuva foi indicado especialmente nas regiões de Ijuí, Santa Rosa, Pelotas, Frederico Westphalen e na Fronteira Oeste, onde também é grande a preocupação com a ferrugem asiática. “O período seco prolongado – 20 dias – tem provocado sintomas de estresse hídrico nas lavouras, como murchamento de folhas nas horas mais quentes do dia e abortamento de flores”, aponta a Emater/RS-Ascar sobre as plantações da região fronteiriça.

Em contrapartida, nas áreas que receberam volumes pluviométricos mais significativos ou intermediários, a situação é satisfatória, como nas regionais de de Caxias do Sul, Santa Maria, Erechim e Soledade: “as plantas evoluem para a fase de formação de vagens e permanecem emitindo brotações, caracterizando hábito de crescimento indeterminado. A estatura está em conformidade com a fase fenológica, o que sugere resultados alinhados às projeções”, aponta o boletim.

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