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Religião

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Ato gratuito!

Trata-se de abrir os olhos e alcançar as situações reais que estão próximas

Por: Pe. Maicon A. Malacarne
Fotos: Reprodução

O convite quaresmal de «voltar para o Senhor» ganha um traço que não pode ser esquecido no evangelho: «todas as vezes que fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que o fizestes!» (Mt 25,31-46). A aproximação com o Senhor é o equilíbrio entre o olhar para cima e o olhar para baixo, olhar para o céu e olhar a realidade. De fato, só se pode rezar com os pés bem próximos da terra, com a fé bem próxima da vida.


«Fazer aos pequenos», todavia, precisa ser bem compreendido – para evitar a exaltação pessoal – deve tornar-se um estilo de vida livre e espontâneo. Mais do que uma série de atividades, «fazer aos pequenos» é uma forma de viver, um jeito de comportar-se que entende não flertar com o egoísmo e viver de forma relacional: «vós sois todos irmãos e irmãs», lembra a Campanha da Fraternidade.


«Fazer aos pequenos» tem concretude no texto de Mateus: «eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar». Trata-se de abrir os olhos e alcançar as situações reais que estão próximas, viver o que é possível viver, fazer com verdade e liberdade!


Clarice Lispector chamou a atenção deste estilo cotidiano como «Ato gratuito» em um dos seus textos mais geniais. Um trecho diz: «Eram 2 horas da tarde de verão. Interrompi meu trabalho, mudei rapidamente de roupa, desci, tomei um táxi que passava e disse ao chofer: vamos ao Jardim Botânico. ‘Que rua?’, perguntou ele. ‘O senhor não está entendendo’, expliquei-lhe, ‘não quero ir ao bairro e sim ao Jardim do bairro’. Não sei por que olhou-me um instante com atenção. Deixei abertas as vidraças do carro, que corria muito, e eu já começara minha liberdade deixando que um vento fortíssimo me desalinhasse os cabelos e me batesse no rosto grato de olhos entrefechados de felicidade. Eu ia ao Jardim Botânico para quê? Só para olhar. Só para ver. Só para sentir. Só para viver».


«Fazer aos pequenos» deve ser o «ato gratuito» por excelência.

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